Hoje a Pastora teve a oportunidade de fumar pela primeira vez cachimbo. Devo admitir, ainda que não seja fumadora, que achei uma experiência interessante. E também mais agradável do que fumar tabaco regular. Fumar cachimbo tem uma mistura de subtileza e dureza, ao mesmo tempo que parece ser mais higiénico, por assim dizer, face ao tabaco normal. E isto sobretudo devido aos cheiros. Sendo que um dos grande males do tabaco, quanto a meu ver, bem pior do que os malefícios para a saúde, é o cheiro impregnado que fica em todo o lado… no hálito, nas mãos, na roupa. Já com o cachimbo não há tanto esse problema. Portanto, é uma espécie de vício mais limpo, diria. De qualquer das formas, não era bem isto de que vos queria falar. A pergunta essencial de ressalta de toda esta experiência, é a seguinte: mas porque raio existem tão poucas mulheres a fumar cachimbo?!
Tendo a Pastora uma costela feminista, um fenómeno destes não poderia passar ao lado. Afinal de contas, quem é que disse que não era suposto as mulheres fumarem cachimbo? Após questionamento a alguns indivíduos do sexo oposto (nomeadamente estes), recebo a resposta de que uma mulher a fumar cachimbo não é estético. O que é perfeitamente ridículo! E ainda que compreenda que estéticas não se discutem, é interessante pensar que talvez há 50 anos atrás, também não seria considerado muito estético ver uma mulher fumar tabaco normal. Portanto, quanto a mim… é tudo uma questão de hábito. Não é como se o facto de uma mulher fumar cachimbo a tornasse imediatamente numa mulher-homem (daquelas tipo butch). Inclusivamente, segundo pude apurar, era não só frequente, mas também popular, nos séculos XVII e XVIII, as mulheres fumarem cachimbo, nomeadamente as senhoras respeitáveis da nobreza, bem como da classe burguesa. Portanto, a Pastora deixa aqui um apelo a todas as leitoras a revitalizarem o uso do cachimbo pelas mulheres:
Women! Let’s bring the pipe back!
Lonely Shepherd 
Não é, puramente, uma questão de estética, para mim. É uma questão de ver as mulheres a terem menos espaço. Há um desejo quase doentio, da maior parte das mulheres, de se tornarem homens, e isso assusta-me. Não é, portanto, medo de uma invasão do «mundo dos homens», mas medo de que a feminilidade, do vosso lado, desapareça. Em relação à tua dúvida: também não há muitos homens a andar de saltos altos, pois não? E quererias vê-los? Pois.
Como é que é possível equiparares o acto de uma mulher fumar cachimbo ao de um homem usar saltos altos…? E para além disso, não vejo de que modo uma mulher fumar cachimbo é abdicar da sua feminilidade. É tão masculinizador uma mulher fumar cachimbo, quanto fumar um cigarro normal. Tal como disse anteriormente no post, pode parecer mais estranho, apenas porque não é algo comum. Porque não é um conceito ao qual as pessoas estejam habituadas. Eu cá para mim, os homens sentem-se é muito ameaçados quando alguns dos seus nichos correm o risco de ser invadidos por mulheres…
Lá está a conversa do «eles têm medo é de nós». Nada disso. Repito e volto a repetir: só não quero que, um dia, a única diferença entre um homem e uma mulher seja um pénis. Por muito bonito que isso seja para a maioria das mulheres, o esbatimento das fronteiras entre o mundo masculino e o mundo masculino é, diria mesmo, anti-natural. Ver uma mulher a fumar cachimbo ou a arrotar é mais ou menos como ir sair para a discoteca com o meu pai ou ir apanhar bebedeiras com a minha mãe. São mundos que, Deus nos guarde do contrário, não devem nunca colidir.
Já pareces o George do Seinfeld, com esse discurso da colisão dos mundos. Homens e mulheres serão sempre diferentes. Não é um cachimbo que vai alterar isso. Há umas boas décadas atrás também se poderia dizer que o facto das mulheres usarem calças ou terem um trabalho para além das tarefas domésticas seria anti-natural e que esbateria a diferença entre os mundos masculino e feminino. E no entanto, o que sucedeu? Os homens continuam homens e as mulheres continuam mulheres.
Também não compreendo essa idealização da mulher, esse estereótipo de que a mulher tem de ser imaculada e graciosa. Não arrota, não peida, não tira macacos do nariz, não caga, não mija, não tem ramelas e claro… não fuma cachimbo. Como se a mulher tivesse que ser talhada à imagem e semelhança de Nossa Senhora.
A questão que te deixo e que me parece ser a essencial é: Afinal o que é o feminino para ti? O que é que é suposto uma mulher representar?